A despeito das teorias populares de conspiração global (cuja algumas, confesso, fico tentado a acreditar, em especial as que envolvem a ditadura comunista chinesa) e das revelações bíblicas e escatológicas sobre o fim dos tempos da vida humana na Terra (das que acredito plenamente no cumprimento gradativo em um futuro próximo, conforme descritas por Jesus nos quatro evangelhos e pelo apóstolo João em Apocalipse), desejo aqui refletir sobre algo mais prático e momentâneo. Ao vivermos os efeitos colaterais da pandemia do Convid-19, todos estamos passando pela mudança de hábitos em nosso cotidiano, não como fruto direto do vírus em si e das mortes que ele tem causado, mas do isolamento social. Este é, realmente, um fato social único e muito novo para todos nós, em especial no Brasil. O máximo que nosso país já tinha passado perto disso eram os toques de recolher nas comunidades mais carentes do Brasil, determinados pela polícia ou pela opressão dos traficantes em determinadas áreas. Definitivamente, a reclusão, o confinamento e o isolamento social nas casas nunca fizeram parte da cultura do festivo e tropical povo brasileiro, que ama um ajuntamento social.
No decorrer da história da humanidade e do povo brasileiro, já lidamos com muitas doenças, surtos e crises, inclusive de vírus que atacam o sistema imunológico e respiratório, tal como o Covid-19. Todavia, nada comparado à magnitude do que estamos vivendo, seja pelo o rápido contágio ou pela amplitude global que pandemia alcançou. Como vivemos como nunca de forma globalizada, o novo coronavírus está causando um impacto que jamais havíamos experimentado. E todos que sobrevivermos a esta nova pandemia, viveremos em um novo mundo. O surto passará, como já observamos em alguns países e a vacina e os medicamentos para tratamento surgirão, no entanto, teremos um legado que incluirá novos hábitos culturais para a prática da nova vida. Alguns comportamentos que já estão em alta neste momento de quarentena, com o passar do surto diminuirão, mas já terão influenciado para sempre alguns meios.
O comércio pela internet está crescendo e ganhará uma grande aceleração. Muitos nunca tinham feito compras pela internet e agora estão adquirindo, recebendo encomendas em suas casas e apreciando a prática. Pedir comida em casa era um hábito crescente e que agora só deve se expandir. Muitos perceberão que é mais barato e mais prático exercitar-se em casa via streaming e milhares estão fazendo isso de forma gratuita. Muitos nunca quiseram experimentar estudos online via EAD, e, agora, depois de usarem as ferramentas já estão vendo seus benefícios, aprendendo música, idiomas e até mesmo estudos eletivos secundários e de graduação. O home office, que hoje já está em torno de 30% a 100% em alguns setores, ainda quebrará muitos tabus, economizado tempo e dinheiro para empregadores e funcionários. Viagens para reuniões de negócios, que antes despendiam de muito tempo e recursos, estão sendo realizadas de forma rápida e econômica e com a mesma eficiência. Encontros religiosos virtuais, que antes para muitos não era uma opção concebida, se tornarão um novo hábito de muitos. Produtos de higiene e de limpeza ganharão destaque como nunca na vida das famílias e empresas. Consultas médicas online, que antes não eram permitidas, hoje estão se tornando lei em muitos países. Votações em reuniões públicas e administrativas pela internet agora também já estão sendo validadas como oficiais.
A forma como estão organizados os transportes públicos em massa, sejam térreos ou aéreos, nunca mais serão os mesmos. E as nossas já conhecidas máscaras, que já eram bem comuns em toda a Ásia antes mesmo da crise, também não deixarão mais os rostos urbanos no nosso país, e já até aparecem com marcas de grifes e com opções com mais conforto e praticidade. O mesmo acontece com o álcool em gel, que ganhou novas embalagens, cheios e cores.
Gostemos ou não da realidade social da vida online e dos novos hábitos, ela chegou para ficar. Ela está sendo acelerada pela realidade do isolamento social e, como resultado, o comércio e a indústria de produtos e serviços se moldarão aos novos hábitos da população. Não se trata de uma questão de mudar ou não; quem se adiantar às mudanças, influenciará e liderará este novo mundo que está surgindo de forma global após esta crise. Entenda que a reação sempre começa atrasada e no prejuízo, portanto, olhe adiante de seu tempo para gerar novos sonhos, receber uma nova visão e planejar com agilidade e criatividade. Em tempos de crise surgem novas ideias; em tempos de recessão precisamos de novos recursos e serviços; em tempos de pressão emergem novos lideres para a sociedade.
O mundo está mudando e não será mais o mesmo. Alguns hábitos serão bons e outros ruins, mas, como antes não seremos mais. Não é sobre sermos pessimistas ou fatalistas, apenas, sobre termos bom senso, fazendo leituras além do óbvio do momento. Portanto, pare de reclamar e de olhar somente para o seu momento pessoal. Vislumbre os horizontes e comece a se reinventar, redesenhar e a se adaptar para viver a nova realidade social e profissional que se coloca. Quem se adianta, governa. O que será bom ou ruim nas próximas mudanças, logo saberemos, mas, seja como for, precisamos de pessoas com caráter, princípios, valores, bom senso, sabedoria e criatividade. Seja como o mundo for, precisará de gente positiva e propositiva.
Como somos humanos, e não máquinas em que se aperta uma tecla para acionar uma mudança, cuide do seu coração e do seu emocional neste tempo de aceleradas mudanças. Vale muito lembrar de um conselho muito valioso que Jesus nos deu em seu mais famoso sermão: “Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal” (Mateus 6:34). Portanto, viva um dia de cada vez!
Carlito Paes