Neste tempo de isolamento social e várias restrições à liberdade social comunitária impostas à população em virtude do COVID-19, é perceptivo notar que algumas pessoas, dependendo da sua personalidade, não reagem tão bem a esta nova realidade. Elas perdem a paciência! Em especial, dentro do convívio familiar. Contudo, a paciência não é algo que se perde sem graves consequências para o indivíduo e para os que convivem com ele, ainda mais em casa. A perda desta virtude é altamente danosa à saúde coletiva. Paciência não é um sentimento, é uma expressão prática do amor. Paulo, em uma das suas cartas, escreveu aos cristãos da região grega da antiga Galácia:
“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade […]” Gálatas 5:22 (grifo do autor).
A palavra portuguesa “paciência” vem do termo latino patientia, utilizado neste verso da Vulgata que, por sua vez, vem do adjetivo patiens (“aquele que sofre, que se submete, que suporta, que é paciente”). Este adjetivo deriva do verbo patior, que significa primordialmente “sofrer”, tanto no sentido habitual da palavra, quanto naquele de se passar por algo. Está de certa maneira relacionada à palavra do original grego utilizada aqui, que é μακροθυμία (makrothymia), que traduzimos por “paciência”. A palavra grega é composta por dois radicais, o adjetivo μακρός (makrós), que significa “longo”, “longe”, e θυμός (thymós), que significa “paixão”, “ira”, indicando um tipo de atitude derivada de emoções intensas. Assim, a tradução literal é uma “paixão longa”, ou seja, a qualidade de alguém que espera tempo o suficiente antes de demonstrar ira, evitando que se demonstre intensamente uma reação emotiva ou pessoal demais.
Quando aplicamos a paciência, portanto, estamos crescendo, sendo esticados para melhor entender, ajudar e servir ao próximo. θυμός (thymós) é o termo utilizado para a ira de Deus em Apocalipse, por exemplo, demonstrando que só Deus pode demonstrar a ira justa, que se direciona apenas ao pecado e que não tem a ver com um desabafo emocional, que é como os humanos demonstram ira. Do mesmo modo, Deus também tem (makrothymia), e isso nos diz que só podemos resistir à tentação de sucumbir às paixões por meio da ação do Espírito, e é justamente por isso que ela é listada como um dos Seus frutos. Veja estes exemplos: “Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão que há muito tempo desobedeceram, quando Deus esperava pacientemente [μακροθυμία (makrothymia)] nos dias de Noé, enquanto a arca era construída” (1 Pedro 3:18-20a). Outro exemplo bíblico traz: “Tenham em mente que a paciência [μακροθυμίαν (makrothymian)] de nosso Senhor significa salvação, como também o nosso amado irmão Paulo lhes escreveu, com a sabedoria que Deus lhe deu” (2 Pedro 3:15).
A tradução inglesa do primeiro verso traz o termo longsuffering (resignação, resiliência), que se aproxima da ideia de um sofrimento, uma paixão, que é suportado por muito tempo antes de que se faça alguma coisa a respeito, de forma que esta ação seja justa e não meramente fruto das emoções. Eu me sujeito à dor, àquela paixão, para que não se transforme em ira direcionada injustamente a alguém.
Que haja paciência em nossas vidas e família, para assim não perdermos a cabeça e, com palavras e atitudes, não venhamos a prejudicar um momento tão difícil para todos nós em meio a esta situação de pandemia. Não existe nada que esteja ruim, que não possa ficar pior mediante a falta de paciência. Portanto, escolha a paz e a paciência!
Carlito Paes