O crime continua sem solução. O Brasil e o mundo desejam saber quem assassinou Marielle Franco. Desvendar este crime está acima da posição política e ideológica da vereadora, sua filiação partidária ou sua opção sexual; estas questões são pessoais e vivemos em um país livre, em que todos têm seus direitos. Sim, ela era militante de esquerda e com posições sobre questões éticas bem opostas às minhas, como descriminalizar drogas, apoiar o aborto e o casamento homoafetivo. Porém, não são os posicionamentos diferentes do meus e de grande parte da população brasileira, que deveria eximi-la do direito. Precisamos entender que o amor e o respeito à vida, à liberdade de expressão e às preferências pessoais são um bem inviolável da cidadania constitucional brasileira. Todos precisamos respeitar a máxima que é o maior mandamento de Jesus: amarmos uns aos outros.
Este homicídio aprofunda nossa ferida e gera ainda mais ódio, divisão e violência. E expõe algo que já é muito forte no Brasil atual: a intolerância entre grupos. Nenhuma pessoa pode ser um alvo de injustiça, atentado e morte. Ainda há o agravante de Marielle ser uma autoridade em sua cidade, uma vereadora eleita democraticamente. Ela representava uma parcela da população, mesmo que não tenha sido pelo meu voto, ou nem mesmo pelos votos dos moradores da Maré. Marielle mesmo disse em entrevista que foi o povo da zona Sul do Rio de Janeiro que a elegeu. Inclusive, isso faz-nos pensar no triste fato de que há pessoas que a elegeram que são consumidoras de drogas e, portanto, diretamente envolvidas na dinâmica que perpetua a violência e mortes no Rio de janeiro. Recentemente, o ministro da segurança pública Raul Jungmann criticou abertamente a parcela da classe média do Brasil que tem financiado o crime por meio do consumo de drogas. Pela primeira vez vi uma autoridade federal abordar o assunto desta forma. Afinal, sem demanda não existe oferta. Mas, o fato é que estes eleitores têm o direito de escolher seus representantes. E viram nela uma voz, eles estão no direito de escolhê-la, por mais que eu discorde.
Vejo que hoje precisamos abandonar os discursos inflados de passionalidades e os gritos ideológicos como se fossem religiosos. Precisamos de mais amor, tolerância e respeito às diferenças. Precisamos valorizar a mulher e sua liderança, não só quando ela é negra, gay e assassinada, mas quando ela está de toga na justiça, como a Ministra Carmen Lúcia no Supremo Tribunal em Brasília, sofrendo todo tipo de pressão para livrar condenados da justiça. Há um discurso polarizado de ódio, seja da extrema direita ou da extrema esquerda. Em ambos, há também a corrupção e a ideologia acima das pessoas.
O Brasil não sairá do caos político, social, financeiro e ético que está instalado se for dirigido pelos que querem a morte de pessoas como Marielle, tampouco pelos que exploram politicamente o ocorrido, como se fosse o único caso de um civil trabalhador morto no país saindo do trabalho. O Rio de Janeiro está em guerra. Em 2017 foram 1612 mortes violentas no estado, 632 vítimas de balas perdidas e 134 policiais mortos. Apenas neste ano, foram mais de 30. Será que todos eram corruptos? Em absoluto. A maioria dos policiais são heróis da sociedade no Rio, enfrentando de frente bicheiros, traficantes, milicianos e empresários corruptores. A população e o estado precisam mais da polícia do que podem imaginar. Lembra-se do caos que se tornou o estado do Espírito Santo em poucos dias com a greve dos policiais no ano passado? A polícia é vital para manter a ordem, a cidadania, a segurança, o estado de direito, o respeito e a paz. É óbvio que a corporação tem problemas sérios, como os baixos salários e a corrupção, mas estes são reflexos de toda a nossa sociedade. Hoje, o nosso falido sistema prisional abriga magistrados, políticos, ex-governadores, padres, pastores e até bispos. E ainda continuará a receber novos ilustres moradores, para o bem da justiça e da nação.
Hoje precisamos de uma reforma geral na nação e em seus sistemas, feita por pessoas de credibilidade! No Brasil há corruptos em todas as profissões, inclusive no clero católico e evangélico, na justiça, entre os políticos e empresários. Por que? A corrupção não é exclusividade de uma classe profissional, mas está no ser humano e em seu desejo desenfreado em ter e ser mais, a qualquer preço. Temos que defender a vida, sempre. Não somente da Marielle, mas também do Cláudio Henrique, morto no Rio na frente do filho de 5 anos, na mesma noite da vereadora. Precisamos defender a vida da criança, do adulto, do pobre e do rico, da minha família e da sua. Precisamos defender nosso direito de discordar sem ofensas, acusações falsas e ataques pessoais. Quando você não tem argumentos, não adianta começar a gritar e a usar falsos perfis na internet para atacar ocultamente pessoas que têm visibilidade social. Precisamos continuar pensando sobre o caso da vereadora Marielle Franco. Sem ódio, sem os extremos da “fake news” e sem o culto à personalidade, que é idolatria. Todos pela paz e pela vida, com mais respeito e tolerância e sem ódio no coração!